Campanha da Fraternidade '98

Mutirão de cidadania

O que se pode fazer de concreto.


A situação dramática e os números do sistema educacional brasileiro falam alto. Mas também o apelo às mudanças. A Campanha da Fraternidade convoca católicos e não-católicos, os brasileiros todos, para a ação, louvando o que há de bom e denunciando o que não presta.

A idéia é que se produzam gestos concretos e criativos, no período da Quaresma e também depois, em favor da vida e da esperança, no campo da educação. O debate e as celebrações nas comunidades devem ganhar corpo, formas e cores em ruas e becos, campos e cidades, neste mundo que se chama Brasil.


Mutirões nacionais – São várias as propostas. O texto-base menciona um conjunto de iniciativas possíveis, a começar pelo engajamento de todos nos chamados "mutirões" em nível nacional.

O primeiro deles é para erradicar o analfabetismo. E alfabetização não é só ensinar a rabiscar o nome e soletrar palavras. Deve ajudar a "ler a realidade, despertar para a defesa dos direitos humanos e engajar a pessoa em termos de cidadania".

Os bispos também sugerem que seja reforçado o programa "Nenhuma criança fora da escola", do governo federal.

Concretamente, cada comunidade pode fazer um levantamento das crianças que estão fora da escola, divulgar os dados, cobrar, exigir solução. Se a resposta não for satisfatória, pode inclusive entrar com uma ação judicial que obrigue o Estado a cumprir o que a lei determina.


Partilha do saber – Outra iniciativa importante que a CF-98 quer promover é a das chamadas "oficinas de troca do saber": "Um ensina ao outro os seus conhecimentos, transmite as suas experiências".

O texto-base cita experiências que vão nessa linha, e que já estão dando certo: "Os 'grupos cooperativos profissionalizantes' e os 'cursos vestibulares alternativos', entre os mais pobres, como é o caso, entre outros, dos encabeçados pela Pastoral de Juventude (PJ) e pelos Agentes de Pastoral Negros (APNs)".

Os bispos também sugerem um mutirão, envolvendo universidades, escolas e empresas, nos vastos e sempre mais amplos domínios do trabalho informal e alternativo – as estratégias da população para fugir ao desemprego. Há muito que se pode fazer aí, em termos de cursos de qualificação profissional, economia, administração, higiene, etc.


Pastoral da Educação – A Igreja deixa bem claro que "não é possível educar sem levar em conta, e muito seriamente, a poderosa influência dos meios de comunicação social".

Por isso, além dos mutirões nacionais, estimula grupos e comunidades a criar espaços de estudo e debate para avaliar, por exemplo, os programas de TV e rádio que, de fato, são educativos, promovem a cidadania, a vida e a solidariedade.

Uma outra proposta, para todas as dioceses brasileiras: implantar, onde ainda não existe, a Pastoral da Educação, como "presença e ação da Igreja, proclamando e construindo o Reino, no e através do mundo da educação".

Como este é um ano de eleições, a CF-98 convida, enfim, os católicos e toda a sociedade a dar um salto de qualidade em matéria de educação política. Definitivamente, o "analfabetismo político" só contribui para deixar as coisas como estão – e não é só no campo da educação.

Cartaz da CF-98

No cartaz da CF 98, o rosto de uma menina. É o "Retrato de criança no Assentamento de Barra do Onça, próximo ao município de Canindé de São Francisco. Aí, 102 famílias conseguiram há alguns anos suas parcelas individuais de terra e possuem em comum 850 vacas leiteiras, cuja produção diária ultrapassa os 5 mil litros. É a maior unidade do setor em Sergipe e a única em que se fazem duas ordenhas por dia. Sergipe, 1996" (Foto de Sebastião Salgado, em Terra, Companhia das Letras, pág. 107).

"Com seu rosto e cabelos desordenados, esta menina representa milhões e milhões de crianças-jovens, do Oiapoque ao Chuí, de Fernando de Noronha a Tabatinga. Pode ser da roça ou das periferias das cidades.

Sua posição, suas mãos segurando o lápis, seu olhar e sua boca nos dizem: 'Olhe, estou aqui! Quero aprender! Quero ver! Quero ter vida digna! É por isso que me esforço, faço até sacrifícios! Mas eu preciso de vocês! Quero que me ajudem!'.

Seus olhos, tão expressivos, abrem-se para um futuro que se deseja melhor: justo, fraterno, solidário. São olhos ávidos de amor e compreensão. Seu brilho traduz e expressa uma grande esperança: a de que um dia todas as lágrimas serão enxugadas e, finalmente, haverá de surgir um mundo novo, sonhado e querido por Deus" (Ervin Kräutler, bispo de Xingu/PA).

O lema "A serviço da vida e da esperança" expressa a missão de Jesus, que veio para anunciar Vida, Esperança e Liberdade para todos (Cf. Lc 4,18-19).