Igreja no Brasil em 96

REFORMA AGRÁRIA

A chacina de Eldorado dos Carajás/PA, em abril, gerou um momento forte de mobilização. Aconteceu enquanto os bispos de todo o Brasil estavam reunidos em Itaici/SP e marcou profundamente a assembléia, fazendo a Igreja ressurgir para a luta, ainda com mais vigor, pela reforma agrária.

Os documentos oficiais da CNBB e das várias dioceses são firmes e claros em defesa da reforma agrária e da agricultura familiar. Sob esse ponto de vista, continuamos avançando. Por outro lado, constata-se uma falta de sintonia entre a firmeza do discurso oficial e as práticas de dioceses e paróquias. Há atuações tímidas, e até contrárias à reforma agrária. Documentos e pronunciamentos devem chegar mais às bases da Igreja.

O maior desafio para 1997 é o que foi colocado pelo Grito dos Excluídos: "O trabalho é a chave da questão social". O desemprego é um problema crucial, tanto na cidade quanto no campo, e tende a se agravar. A terra constitui uma alternativa. Terra e emprego são os grandes desafios para a virada do século.

Írio Luiz Conti
Secretário Executivo da Comissão Pastoral da Terra (CPT) Nacional


POVOS INDÍGENAS

O ano começou com uma medida do governo - o Decreto 1775/96 - que acabou mudando todo o procedimento administrativo de demarcação das terras indígenas. Passamos boa parte do ano trabalhando pela revogação do decreto. Houve manifestações indígenas na capital federal e em outras cidades do país, com o apoio de setores organizados da sociedade e da Igreja. A CNBB manifestou-se publicamente pela revogação do decreto e vem assumindo uma postura crítica em relação ao governo. De modo geral, há grande sensibilidade pela causa indígena.

Agora, em termos de Igreja como um todo, temos ainda que avançar muito. Há regiões em que a Igreja tenta impor aos povos indígenas o seu modo de ver, pensar e acreditar em Deus. Prevalece ainda a idéia de que o índio, para encontrar a Deus, tem que ser catequizado e batizado.

Sob o ponto de vista do apoio político à causa indígena, há ainda muitos casos de omissão, de silêncio diante da exploração que os povos indígenas sofrem e da invasão dos seus territórios. Mas, em geral, em 1996, houve um avanço muito grande. Como instituição, a Igreja tem apoiado a luta.

Roberto A. Liebgotp
Secretário-adjunto do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)


PASTORAL OPERÁRIA

Foi um ano de festa para a Pastoral Operária (PO) Nacional, que comemorou o vigésimo aniversário do seu nascimento. Achamos que demos uma contribuição específica num determinado período da história. Hoje, estamos reavaliando essa participação, buscando responder às novas questões.

A PO tenta redefinir a sua missão no mundo do trabalho, que mudou muito nos últimos tempos. Ela quer atuar de forma mais eficaz e qualificada frente aos grandes desafios colocados hoje para o conjunto dos trabalhadores. O desemprego é o maior desses desafios.

Queremos fazer com que a Igreja como um todo fique mais atenta às questões do trabalho. O que fazemos é ainda muito pouco diante da realidade de exclusão social em que vive a maioria dos brasileiros. As romarias dos trabalhadores e o Grito dos Excluídos, que organizamos em parceria com outras pastorais sociais, têm sido momentos bastante significativos.

Darli Sampaio
Secretária da PO Nacional


LEIGOS CATÓLICOS

Durante todo o ano de 1995 e início de 1996, trabalhamos o tema da cidadania, na sociedade e na Igreja. Houve encontros regionais e, no mês de junho, o encontro nacional, em Goiânia. Assumimos o compromisso de lutar pela reforma agrária, por políticas de geração de empregos e distribuição de renda e pela participação no mundo da política.

Em 1997, vamos ter uma assembléia para discutir a proposta de um estatuto para a criação da Conferência Nacional dos Leigos. O assunto está sendo trabalhado pelos regionais.

Os leigos vão conquistando espaço e construindo uma Igreja diferente. Igreja somos todos nós.Os leigos precisam assumir uma postura muito mais firme na busca de uma Igreja participativa. A Igreja ainda é um lugar onde a democracia conta pouco.

Cecília Franco
Presidente do Conselho Nacional dos Leigos (CNL)


POVO NEGRO

O ano de 1996 foi muito positivo, porque ajudou a concretizar reivindicações e propostas dos grupos afro que atuam dentro da Igreja. Está bem encaminhada a criação do Secretariado Nacional da Pastoral Afro-Brasileira. Em termos de celebração do ano 2000 está previsto, para 1988, um grande congresso nacional, reunindo todos os grupos afro católicos. Em 1997 serão realizados encontros preparatórios em todo o país.

A proposta de criação do centro missionário afro-brasileiro também está sendo encaminhada, com o consenso das principais associações afro católicas. A sede será em Caxias do Sul/RS. Os cursos e seminários serão ministrados em diferentes regiões do país. Algumas atividades devem começar a partir do primeiro semestre do próximo ano.

Acredito que 1997 será um ano abençoado. Vamos ter o Nono Encontro Intereclesial de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), em julho, na capital do Maranhão. Nas comunidades de base, o negro sente-se gente, é valorizado, sente-se Igreja ministerial.

Padre Antônio Aparecido da Silva
Do Instituto Mariama


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