Atendimento a Crianças e Adolescentes


A questão da Criança e do Adolescente carente, que se encontra em situação de abandono, vítima de maus tratos, de exploração diversas, órfão ou infrator, etc. vêm, nestes últimos dez anos, sendo assunto de destaque e objeto de estudos diversos, passando por uma grande discussão nacional, resultando na elaboração de uma legislação própria, o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Não obstante isto, é cada vez crescente o número dessas crianças e adolescentes abandonados a sua própria sorte, onde se vêem expostos a incidências, submetidas a um mundo de violências, onde são vítimas de maus tratos, do abuso sexual ou até mesmo da morte. Por outro lado, sua formação, educação e reinserção social, quando ocorrem, processa-se muitas vezes em condições muito desumanas.

Frente as condições objetivas da realidade brasileira, marcada pelo crescimento da desigualdade econômica, política e social, os projetos governamentais, a educação, as reformas, são apenas bem intencionadas tentativas de solução que não conseguem dar os resultados desejados, numa perspectiva de agir preventivamente.

A falsa percepção da realidade social, econômica e psicológica dessas crianças, leva muita gente a se preocupar com a questão muito mais como defesa, através das reações daqueles que se sentem "incomodados" por eles, que com a realidade e o interesse profundo pelo futuro desses jovens.

Movido por esta percepção, o modelo de atendimento predominante até recentemente era o de uma grande estrutura física destinado ao recolhimento, onde um grande contingente de crianças e adolescentes são colocados de forma totalmente despersonalizantes, dentro de um sistema rígido de regras comunitárias, onde os castigos severos são as tentativas de solução para os desajustamentos; a afetividade é rejeitada; a individualidade, característica peculiar de cada um, é esmagada no conjunto das necessidades artificiais do grupo ou do imaginário educativo proposto consciente e inconscientemente pelos responsáveis.

No sentido de vivenciar uma situação melhor no futuro destas crianças e adolescentes, estão sendo propostas formas novas de intervenção.

Partindo-se da observação de que o desajuste da criança é motivado pela ausênsia de uma família estruturada, constata-se que sua recuperação pode ser conseguida através do convívio com outra família, ainda que substituta.

Surge, pois, a proposta de um atendimento novo, de uma concepção de uma nova prática que gradativamente está se espalhando pelo mundo, a fim de permitir a realização de um programa educativo, voltado para o amparo e a formação integral dessas crianças e adolescentes, que normalmente em sua grande maioria são provenientes de camadas pobres. Esta é a oportunidade de oferecer um estilo de vida simples, em pequenas estruturas de tipo familiar, que possibilite estimular a capacidade de um desenvolvimento completo.


Salvador, fevereiro 1996