A juíza federal substituta, Maria Cláudia de Garcia, da 3ª Vara de Justiça Federal do Estado do Espírito Santo deferiu ontem liminar acatando o habeas corpus impetrado pelos advogados do missionário do Cimi, o holandês Winfridus Overbeek. O habeas corpus teve o objetivo de impedir a deportação do missionário, determinada pela Polícia Federal, quarta-feira, dia 18. Em sua decisão a juíza, Cláudia Garcia, anula a decisão da Polícia em reduzir o visto do missionário holandês de dois anos para oito dias e restaura sua situação original, que prevê validade até novembro de 1999. A perseguição ao missionário do Cimi teve caráter político devido ao seu apoio à autodemarcação da terra indígena Tupinikim e Guarani realizada pelos índios desde o dia 11 de março. O tratamento ao missionário Winfridus Overbeek é considerado pelo Cimi não só uma ação de arbitrariedade e autoritarismo, mas um sintoma claro da perseguição política do governo do sociólogo Fernando Henrique Cardoso. O Cimi defende que não existe crime contra o missionário do Cimi e a sua deportação significaria uma afronta às liberdades individuais e coletivas, preconizadas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, que completa 50 anos. A permanência de Winfridus Overbeek no Brasil é uma vitória para a luta dos povos indígenas Tupinikim e Guarani como de todos os aliados da causa indígena. Enquanto isso, a Comissão Indígena dos Tupinikim e Guarani continuam a luta pela demarcação de sua terra . Nesta quinta-feira, dia 26, acontece em Brasília a segunda rodada de negociações. A primeira reunião aconteceu há dois dias com a presença de uma representação da Comissão Indígena, Funai e diretores da multinacional Aracruz Celulose, e Ministério da Justiça, em Brasília. A reunião foi marcada pela Funai que se convenceu da determinação dos índios em realizar a autodemarcação da terra e rejeitar os limites impostos. Na portaria do ministro da Justiça, Iris Resende, a terra indígena, definida em 13.579 hectares, foi reduzida para 2.571 ha. A ofensiva do governo contra os povos indígenas se ampliou com a Portaria nº 253 da Funai que evoca o poder de polícia da Funai, impedindo a presença de pessoas nas áreas indígenas sem a devida autorização do presidente do órgão. A reação dos índios provocou um clima de estado de sítio na região. A Polícia Federal cercou o local, intimidou o acesso da população na área, deteve para interrogatórios técnicos que auxiliavam a demarcação e representantes de entidades sindicais. Em contrapartida, desenvolveu-se uma intensa rede de solidariedade aos índios e ao missionário Winfridus Overbeek. Mensagens eletrônicas de várias partes do mundo chegaram ao Cimi e ao governo brasileiro, em apoio a demarcação e a permanência do missionário no país. Na terça-feira, dia 24, uma manifestação pública na Assembléia Legislativa do Espírito Santo recolheu 530 assinaturas de apoio aos índios. No mesmo dia um comunicado da Aracruz Celulose informou, sem maiores explicações, que o presidente do grupo, Luis Kaufman, havia pedido demissão. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) esteve reunida com o vice-presidente da República, Marco Maciel, demonstrando sua preocupação com a situação do missionário do Cimi, pedindo a revogação da Portaria Ministerial de demarcação da terra indígena e o fim do cerco militar na área. A comissão da CNBB era composta pelo secretário geral do órgão, d. Raimundo Damasceno, pelo bispo da região de Aracruz, d. Geraldo Lyrio, pelo responsável do setor de missionários, d. Erwin Krautler e pelo presidente do Cimi, d. Aparecido José Dias. Não houve nenhuma resposta do governo até o momento. Brasília, 26 de março de 1998. Conselho Indigenista Missionário - Cimi
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