CIMI - Conselho Indigenista Missionario
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VAMOS DEPORTAR O BRASIL
DE UMA VEZ?


Se alguém já pensou que o Brasil é uma democracia, submetido como está, o
coitado, à macroditadura neoliberal, enganou-se. E se alguém pensou que
esse governo que está aí – comprando e vendendo para se reeleger, aliás – é
um governo do Brasil para o Brasil, enganou-se também. 

O recente seqüestro, oficial, pela Polícia Federal às ordens do Ministério
da Justiça, do missionário holandês Winfridus Overbeek, ajuda
dramaticamente a desmanchar essas possíveis ilusões de democracia e de
brasilidade. O Brasil é das Aracruzes multinacionais e a única dívida
sagrada que o Brasil tem é a Dívida Externa. Causa Indígena, Dívida Social,
soberania nacional, etc., são improdutividades românticas, na linha das
cantigas "Meu Brasil brasileiro"...

A Constituição reconhece o direito dos Povos Indígenas à seus territórios
e à gestão de seu processo cultural, econômico, social. Quando o órgão –
reduzido à caricatura – da política indigenista oficial não age e pelo
contrário encobre, se vende, trai, o menos que se pode esperar é que os
próprios Povos Indígenas atuem, com a mais legítima das indignações e dando
uma lição de moral e de dignidade. O Brasil não oficial nem multinacional
está com os Povos Tupinikim e Guarani; por seus direitos primeiros,
intocáveis, e nesta hora, já tardia, pela autodemarcação de suas terras. E
esse Brasil, o brasileiro, está com o generoso irmão solidário, Winfridus,
representante digníssimo da única legítima multinacional – a da
fraternidade humana! 

Para requinte de desfaçatez, no dia seguinte do seqüestro de Winfridus, o
senhor presidente da FUNAI baixa uma portaria proibindo, de novo, o acesso
às áreas indígenas daquelas pessoas e entidades – Cimi sobretudo,
evidentemente! – que entram nessas áreas para servir aos Povos Indígenas,
para defender seus territórios e sua cultura, para denunciar qualquer tipo
de agressão ou de omissão, para colaborar desinteressadamente – dando até a
própria vida na construção de um futuro que seja de vida e de paz, sem
colonialismos antigos ou novos, sem impérios multinacionais: não só para os
Povos Indígenas que estão no Brasil mas também para todo o Povo Brasileiro.
Violar o direito dos Povos Indígenas brasileiros é violar radicalmente –
pela raiz  - o direito, a dignidade, o verdadeiro futuro, do Brasil. Ou
será que esta desgramada política oficial que nos des-governa está mesmo
querendo deportar o Brasil de uma vez, Mercado adentro, privatização afora?

Os Povos Indígenas vêm resistindo há 500 anos: esses 500 que não vamos
celebrar festivamente não! Nós, missionários, nativos ou estrangeiros, que
desconhecemos fronteiras quando se trata da solidariedade humana e do Reino
de Deus, seguiremos resistindo com esses Povos testemunhas. Nem as
ditaduras militares nem as democracias neoliberais poderão nos barrar. A
Justiça, o Amor, a Esperança são inclaudicavelmente teimosos!

           Winfridus e companhia ilimitada, aquele abraço pascal!

		Dom Pedro Casaldáliga





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